02/11/2015

Série para ver | Mad Men

Mais uma série de culto que termino de ver e que não poderia deixar de vos recomendar. 

Mad Men retrata a década de 60 e é daqueles casos sérios de qualidade, super aclamada pela crítica pela sua autenticidade histórica, vestuário e realização. Desde que foi para o ar o primeiro episódio, em 2007, foram muitos os prémios arrecadados, desde Emmy a Globos de Ouro, o que faz da série, segundo a TV Guide, "o melhor drama de todos os tempos". Já a Writers Guide Association coloca Mad Men na 7ª posição das "101 séries melhor escritas da história da TV".

E eu não poderia estar mais de acordo. 


A(s) História(s)

Década de 60. Mundo da publicidade. American way of life. Don Draper.
É a partir destas quatro premissas que assistimos ao desenrolar de Mad Men durante oito anos, sete temporadas e 90 episódios. O último capítulo da série que virou lenda foi transmitido em Maio deste ano.

Dizem que o êxito da série se deve em grande parte a Jon Hamm, o actor que interpreta o protagonista Don Draper e que conseguiu elevar o personagem ao altar dos inesquecíveis da história da televisão. Este ano, foi para ele - finalmente - o Emmy de melhor actor.


E o que tem de inesquecível Don Draper

O lado fácil é que é um brilhante publicitário de Nova Iorque, de origens humildes, casado inicialmente com uma ex-modelo, pai de três filhos. Até aqui, tudo perfeito. Até vir à tona o verdadeiro ele. Afinal, não nasceu Don, mas Dick Whitman. Roubou a identidade de um companheiro de guerra morto na Coreia para poder fugir e vive com o peso da história durante toda a série. Contra todas as aparências, é um homem frágil, que tem tudo e não sabe ser feliz, que não se ama nem sabe amar ninguém. É o protótipo de anti-herói masculino, mas que apesar de todos os defeitos prende o telespectador como nenhum.

Don e Betty, a primeira mulher e mãe dos filhos.

Don e Megan, a segunda mulher.

Muitos perguntam-se: poderia Don Draper viver sem Jon Hamm? Poderia, mas não seria, definitivamente, a mesma coisa. E poderia o actor Jon Hamm triunfar nos EUA antes da era Don Draper? Poderia, mas não o fez. Os dois estão de tal maneira ligados que a ficção chegou, inclusivamente, a inspirar a realidade (e não o contrário!): há alguns meses, Jon Hamm saiu de uma clínica de reabilitação para alcoólicos, ao grande estilo Don Draper! É que não será fácil "carregar" às costas durante 8 anos um perfil de semelhante complexidade!

Don e Roger Sterling, amigo e sócio.

Por detrás de Don Draper, há todo um elenco de personagens ricos que constituem um singular retrato do mundo da publicidade na década de 60, a ilusão do sonho americano, a opressão da classe feminina e o seu despertar social, a corrida para a libertação. 

Mad Men é, antes de qualquer coisa, mentira. Justificação e auto-engano. Álcool e drogas. Sexo e adultério. Os acontecimentos reais que marcaram a época - só para dar um exemplo, eleição e assassínio do presidente Kennedy, morte de Marylin Monroe, o aparecimento das primeiras televisões a cores e da Rua Sésamo - aparecem através das personagens e das suas vidas e não através de grandes argumentos. Cada fenómeno histórico é tratado de forma indirecta e não como parte primordial da série.


Joan e Peggy, as personagens femininas principais e que trabalham na agência de publicidade.

E assim se fez Mad Men, uma série que inicialmente tinha tudo para dar errado, como confessava Rob Sorcher, da cadeia de televisão AMC: "Toda a gente fuma. São desagradáveis. Passa-se no mundo da publicidade e isso não tem valor internacional. É lenta. É de época. É a pior ideia possível".

Acabou por ser a melhor ideia que passou neste canal por cabo nos últimos anos.  



CURIOSIDADES


1. Houve um caminho longo até que Mad Men fosse aceite. A ideia original, do produtor Matthew Weiner, data de 1999. A HBO recusou a série, mas o seu mentor chamou a atenção e foi convidado para ser o chefe de guionistas de Os Sopranos.

2. A vida do protagonista é fictícia, mas há rumores de que o personagem é inspirado no publicitário Draper Daniels, que trabalhou para a prestigiada agência Leo Burnett em Chicago e que foi responsável pela famosa campanha da Marlboro nos anos 50.

3. Jon Hamm era o último na lista para encarnar Don Draper. Os preferidos eram Thomas Jane, Danny Masterson e Peter Hermann.

4. January Jones, que interpreta Betty Draper, a primeira mulher de Don, fez o casting para o papel da secretária que virou redactora chefe Peggy Olson, que acabou por ficar com a actriz Elisabeth Moss. 

5. John Slattery, que interpreta o sócio de Don, Roger Sterling, na verdade apresentou-se para interpretar o protagonista. Por causa disso, o actor reconhece ter estado de mau humor na rodagem dos primeiros episódios da série. 

6. A relação entre a AMC e o produtor Matthew Weiner foi sempre complicada. A série esteve em risco por problemas de financiamento.

7. Durante as gravações, os actores estavam proibidos de ir ao ginásio para que a sua constituição física fosse o mais aproximada possível à da época. Deviam, também, saber fumar de verdade, ainda que os cigarros depois foram substituídos por uns de menta.




Eu acabei de ver a série na sexta-feira e já tenho saudades. Saudades das cenas lentas e de duplos sentidos e várias interpretações. Da quase ausência de banda sonora, da luta de identidade de Don, das (inúmeras) mulheres que vão passando pela sua vida e que vão deixando sempre uma mensagem. Da agitação típica de uma agência de publicidade, do fervilhar de ideias, da contextualização histórica que nos faz querer remeter para aquela época de descobertas.

Recomendo. Muito, mesmo! 

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